08 fevereiro, 2017

Escrever à maneira de (várias) pessoas


Medley Pessoano*

O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar…
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar…

Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.


*compilação de versos dos poemas "O andaime" (Fernando Pessoa), "Tabacaria" (Álvaro de Campos) e "Guardador de Rebanhos" (Alberto Caeiro)

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