Acto Segundo (1 + 1)
(Versão 2.1) Intermezzo
[A
música do segundo Acto Primeiro cessou. A cortina foi fechada. De um lado, o
público estarrecido. Do outro, dois corpos que repousam esgotados. Ouve-se PLAY Fausto @ não se move. π
arrasta-se, transpõe a cortina, ajoelhado, como quem reza.]
π: [com seriedade, em tom grave]
creio-nos
em almas escancaradas,
de
jangada que toma de assalto as ternuras e delícias que flutuam na
desconjuntada periferia do tempo
como
se ali tivessem morado sempre,
as
ternuras e delícias,
revistas
no tempo de sempre
em
escassos cinco minutos (dos nossos)
mas
não!
terão
passado quatro (ou teriam sido cinco mil?) unidades de tempo maior,
daquelas
medidas pela dança da Terra à volta do Sol
[sim, confirmei no Google a definição de um ano (dos homens)]
o
tempo é-nos sempre tão confuso
e a
memória comum e a arqueologia dos dias estão guardadas na magia de um
clique,
talvez
à matéria das almas escancaradas não lhe assista factos tão perfeitamente
inúteis
mas
só podem ter sido quatro (ou teriam sido cinco mil?)
unidades
de tempo maior, condensadas num minuto (do nosso encontro)
preciso-nos
em almas escancaradas de gigante,
sem garantir
que o trajecto da nossa luz ao vazio se faça
em porções de 1/299792458 de segundo ou em qualquer outra
fracção
perfeitamente
maiores, seremos, pois,
nos
passos do nosso encontro
à
razão de sermos próximos das coisas que não se tocam,
feitos
em pormenores do reflexo das árvores concretas,
que
flutuam e descansam nas águas do rio
na
perfeita liberdade de ser-plano
(à
tona do mundo de Edwin Abbott)
creio-nos
em almas escancaradas,
tão
claras e distintas de detalhes,
na
complexidade que se esbate nas coisas planas e mágicas
em
plena liberdade de existência
foge-nos
o vício,
da
morbidez,
(daquela a que os homens se habituaram a querer
viver)
e
escolhemos a matéria etérea e fugaz para existir,
em
almas escancaradas ao sabor e aroma do perfume das chuvas
esgueiramo-nos,
sensíveis, aos toques ímpios na água
(os que dissolvem a
magia da revelação)
e
somos de tal infinitas maneiras
que
só o poema nos poderá eternizar.
sim,
creio-nos em poesia!
Público: [Em coro] sim,
creio!
[π transpõe, novamente, a cortina e junta-se a @.
@, em posição flectida, tronco erguido a 90º, revela três rugas entre os olhos, manifestando no rosto expressão de zanga.]
π: [Encolhendo os ombros e flectindo o braço, pelo cotovelo, ergue as palmas das mãos em simultâneo, viradas para @, formando um ângulo recto com o antebraço] Eu posso explicar!
Ouve-se, ao longe, PLAY Fausto .
<--- vasleuqaR <---
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