In corde*
Sabia de cor
O teu negro cor**…
O teu triste fado
No corpo timbrado
De atroz dor sentida…
Sem cor, sem sabor,
Sem humana vida!
Vejo-te e revejo-te
In corde et ex corde***.
No passado fomos sós
Atados aos mesmos nós
De culpa sombria e vil…
Ó Vingança crua e fria,
A mim retornas servil!
Encontros e desencontros,
Vários e errantes caminhos…
Um desencanto comigo
No coração inimigo…
Encruzilhada sem calma…
Seguimos desencontrados,
Estóicos escravos d’ alma…
Ah, poder eu desatar
Os nós cegos que nos unem!
Veias, artérias, sangue,
Corpos cegos de amar,
A mim regressas sombrio!
Saliva, sabor, suor,
Forte cor distante e frio!
Ex corde****,
β, 07.01.17
* Ablativo singular do nome latino cor, cordis: “no coração”.
** Nominativo singular do nome latino cor, cordis:
“coração”.
*** “Dentro do coração e fora do coração”.
**** Expressão latina empregada no fecho de cartas
dirigidas a pessoas queridas.