Atitudes
Nada
parece fazer sentido em si mesmo, mas em virtude da sua relação com alguma
coisa. Isolar o pensamento humano significaria a redução absoluta ao absurdo,
sobretudo pela sua limitada capacidade de apreensão da totalidade. Renegar a
relação das partes com o todo é a criação de ilhas existenciais que são
motores de produção de egoísmos e de pensamentos egocêntricos que em muito tem
contribuído para uma actualidade universal.
A
inversão deste exercício mental, e do seu alargamento da escala às dimensões da
humanidade e da totalidade do tempo, implica desafios gigantes mas dentro da
dimensão humana, por forma a procurar o
sentido nos seus próprios actos dentro da globalidade, ou seja, “não dar mais
valor à queda de um império que ao nascimento de uma criança, nem mais peso às
acções de um rei do que a um suspiro de amor” conforme afirma o historiador José
Mattoso.
A
pretensão da totalidade é um desafio à capacidade humana, e abarcar tal empresa
poderá divergir tanto quanto a riqueza e diversidade da sua natureza. Estará
de qualquer forma sempre dependente da atitude do próprio homem, pelo que, pela
liberdade que possuo defendo a atitude
contemplativa*. Esta atitude não pretende afirmar-se como ideia de
passividade, de “irrealismo beatífico”
ou de uma qualquer procura transcendental. Procura antes uma observação
atenta do real ou como afirma Alberto Caeiro “da espantosa realidade das
coisas”.
Esta
atitude procura estender o olhar até aos limites da história e do Universo com
a pretensão de tudo envolver num único olhar. Esta ambição pela totalidade é
pois a observação que procura captar todas as suas dimensões: não apenas as
mensuráveis mas o que as coisas evocam ou simbolizam, não apenas o que a
ciência pode classificar com as suas metodologias mas o que também pode ser
captado pelo registo poético ou artístico.
Abrir
o pensamento à totalidade é pois um desafio do homem à apreensão do real em
todas as suas facetas e implica a sua vontade para disponibilizar recursos racionais
mas também volitivos, o que significa afirmar que os sentidos do corpo e do
espírito se devem “abrir” de tal modo ao real que lhe seja como que
interiorizado e absorvido pelo próprio homem.
Esta
atitude ou exercício é pois um ato de amor, que pretende a parte no Todo, o
homem na Humanidade.
* Expressão retirada do autor José Mattoso no âmbito da Conferência realizada na Faculdade de Ciências da Universidade de Nova de Lisboa
Sem comentários:
Enviar um comentário